A VELHA E O CAXEIRO VIAJANTE

 

 

 

 

 

 

Zito do Zé de Ambrósio

Era caixeiro viajante

Vendia de tudo um pouco

Não parava só um instante

Tinha muita muamba

Até rabo de elefante

 

Um dia um camarada

Pra ele então falou:

- Zito pras bandas do Cariri

Nem sei quem me contou

Dá pra ganhar bom dinheiro

Zito já se alegrou

 

Dizem que pra aquelas bandas

Tem rico e milionário

Se eu fosse você , cabra

Aumentava seu salário

Estou falando a verdade

Não é conto do vigário!

 

Zito, que era esperto

Arrumou a mala e saiu

Quando despediu da família

Ambrósio alegre sorriu

Abençoando o filho

Que pela estrada seguiu

 

Da sua casa ao Cariri

Era uma boa caminhada

Zito andava bem rápido

Por trilhas e por estrada

Vendendo e conversando

Seguia sua jornada

 

Um dia o sol estava

Quente como um foguereirão

Zito suava em bicas

Perdendo a respiração

O corpo mais parecia

Uma panela de pressão

 

Tudo que ele queria

Era uma água fresquinha

Mas por perto não tinha

Nem rio, nem uma biquinha

Sonhava com um riacho

E com água geladinha

 

Depois de duas horas

De cansaço e calor

Rezava a todos os santos

Até por nosso Senhor

Já via a morte nos olhos

Era uma sessão de horror

 

Quando de longe avistou

Um ranchinho de sapé

Rezou mais forte então

Prometendo a S. José

Se ele conseguisse água

Nunca perderia a fé

 

Com esforço e ofegante

Conseguiu na porta chegar

Bateu quase sem forças

De quem esatá sem aguentar

Disse tem alguém aí

E ficou a esperar

 

De repente uma voz rouca

Lá de dentro gritou:

- Disse quem está aí fora?

Ele logo falou:

- É Zito de Ambrósio

Que o sol quente escaldou

 

Ela abriu a velha porta

Com um rangido estridente

Na boca da pobre velha

Não tinha sequer um dente

Zito vez o sinal da cruz

E pediu água rapidamente!

 

A boca da velha bruxa

Era só casca de ferida

Tinha pus amarelado

Com resto de comida

Ela disse: - entra rapaz

Que vou te dar guarida

 

Zito, disse: - obrigado

Água , água por favor!

A cabeleira da velha

Era um verdadeiro horror

Piolhos deslizando

Tinha até um voador

 

Ela disse: - pois não

Meu caxeiro viajante

Espere sò um pouquinho

Eu voltarei num instante

Trarei água na xícara

Pois é mais elegante

 

Quando a velha voltou

Com a xícara toda amarela

Com cocô de barata

Com o dedo dentro dela

Zito, disse: - por Deus

Na xícara tinha remela

 

Pegou xícara na mão

E começou a olhar

Tinha um quebrado dela

Zito, começou pensar:

- Vou beber neste quebrado

Para eu não vomitar

 

Quando ele começou

A água santa beber

A velha soltou uns puns

Que a Terra pois a tremer

E caiu na gargalhada

Com o ranho a descer

 

Zito, disse: - desculpa

O que em mim esta errado?

Só quero matar minha sede

E este calor danado

Ela, disse: - nada não

Eu só achei engraçado

 

Zito, tomou toda a água

E pra ela perguntou:

- O que è engraçado?

A velha logo explicou:

- Voce é igual a mim

Bebe do lado que quebrou

 

E como vivo sozinha

O senhor sabe como é

Esta xícara é pinico

Também é pra fazer café

De vez em quando eu lavo

Meu dedão que tem chulé

 

Zito saiu correndo

De nojo e assustado

A velha saiu atrás

Dizendo vem cá amado

Vem dar um beijo na velha

Daqueles bem demorado

 

Esta história engraçada

Foi minha mãe quem contou

Eu adaptei pro cordel

Há muito tempo passou

O almanaque Tico Tico

Que um dia publicou

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