UM PEIXINHO BRASILEIRO

 

Dona Baleia ficou

Dia e noite a navegar

Pois veio lá do Pacífico

Ao Atlântico a nadar

Assim depois de dez dias

No Brasil veio parar.

 

Quando aqui ela chegou

Achou tudo muito lindo

Nadando e cantarolando

O Brasil foi descobrindo

Um peixinho brasileiro

Veio pra ela sorrindo.

- Bom dia Dona Baleia!

O que faz em meu país

Cantarolando e nadando

Parecendo um chafariz

Precisa de uma ajuda?

De alguma diretriz?

 

Dona Baleia alegre

Começou logo falar:

- Eu perdi minha direção

Não sei onde vim parar

Esse é o Brasil do Pelé?

Quero com ele jogar!

 

- Este é meu Brasil lindo

E também do rei Pelé

Um povo alegre e feliz

Nação de amor e fé

Tem muito ouro e petróleo

Milho, arroz e café

 

Dona Baleia pensou

Olhando para o peixinho

Um país com tudo isso

Não terá peixe fraquinho

Ou ele estava mentindo

Seria ele um maluquinho?

 

- Peixinho vai me desculpado

Eu não posso entender,

Um país que tem tudo

Não pode um povo sofrer

Pois sua cara é de fome

Não da para esconder!

 

- Fome, fome ? Sofrimento?

Do que é que está falando?

Nosso país tem a fome?

Você tá exagerando!

Sofrimento é não sorrir

Nem viver cantarolando.

 

- Que diferente peixinho

Nunca fui em mar assim

Todos vivem sorridente

Parecendo querubim

Pois eu gostaria muito

De ouvi lendas se fim.

 

- Lendas é o que não faltam

Vou contar uma legal

Em estados brasileiros

Saci corre em milharal

Amarra rabo de jegue

E foge num vendaval.

 

- Que legal caro Peixinho

Conta outra para mim

Pra eu contar aos amigos

Em uma noite sim fim

Estou gostando muito

Conte logo, estou afim.

 

- Pois bem agora vai outra:

É um pouco diferente

Tem uma coisa chamada

De tráfico de inocente

Monstros malvados que matam

As criancinhas da gente.

 

- Que horror caro Peixinho

Não sabia deste mal

Pensava que aqui só tinha

Futebol e Carnaval

Samba e mulher bonita

De beleza sem igual.

 

- Tem outras coisas, amiga,

Que agora vou contar:

As crianças nas esquinas

Corpos a comercializar

Para comprar a morte

Pó branco pra te matar.

 

- Oh, Peixinho que tristeza

Eu estou quase chorando

Conte uma bem bonita

Para eu ir me alegrando

Tou cansada de nadar

Preciso ir relaxando.

 

- Bonita, bela? Já sei!

Tem Avenida Paulista

A praia de Ipanema

O Cristo a mais bela vista

E o nosso bom cordel

Revelando só artista.

 

Meninos do Olodum

Salinas em Mossoró

Cantadores maravilhosos

Na música dando até nó

Tem acarajé da Bahia

Bolo de rolo da vovó

 

- Que legal, me conte mais

Agora fiquei feliz,

Me fez até esquecer

Que estou sem diretriz

Adoro lendas e histórias

De princesa e imperatriz!

 

- Mais? É comigo mesmo

Preste bastante atenção

Tem o bom Maracanã

Na luz tem a estação

Tem maravilhosos rodeios

Tem até um Minhocão

 

- Estou gostando bastante

Vou começar a anotar

Para eu não esquecer

Na hora de repassar

Eu estou escrevendo

Pode começar a falar

 

- Tem o elevador Lacerda

Tem o boi Boi Caprichoso

E também Boi Garantido

É um evento famoso

Tem frevo em Pernambuco

E o velho Chico poderoso

 

Aqui temos santidade

Padre Cícero e o primeiro

Nordestino cearence

Da cidade de Juazeiro.

Santuário da Aparecida

Um recanto milagreiro

 

Primeiro santo brasileiro

Pelo Vaticano reconhecido

E o nosso Frei Galvão

Protetor dos mais sofrido

É tão bom termos um santo

Neste meu Brasil querido

 

- Amigo! Aqui é o paraíso?’

Você pode responder?

- Seria o paraiso!

Se não tivesse sofrer

Tem gente que só trabablha

Somente para comer

 

Temos donos de terras

Que exploram inocente

Tem gente que corta cana

Até o corpo ficar doente

Trabalhando muitas horas

Em um calor bem ardente

 

Governos tiram do povo

Dinheiro do hospital

Gente mofano em filas

Morrendo de muito mal

Marca exames em janeiro

Só se faz é no Natal

 

- Que triste peixinho amigo

Não precisava ser assim

Será que algum dia

Tudo isso vai ter fim?

- Nosso povo reza muito

Pro senhor da um bomfim

 

O peixe olhou pro lado

E ficou todo assustado

Já estava escurecendo

O sol já tinha apagado

Ele despediu-se dela

Com um abraço apertado

 

- Como eu quieria ficar

Mais tempo com a senhora

Já está ficando tarde

E o sol já foi embora

Se eu demorar pra chegar

A comunidade chora.

 

Até mais ver Dona Baleia

Eu preciso trabalhar,

“O mar não está pra peixe”

A gente tem que ralar,

Talvez um dia quem sabe,

A gente vá se encontrar.

 

- Obrigada seu Peixinho

Me sinto um brasileiro,

Agora sei que o Brasil

Não é só bola e pandeiro

Desejo prosperidade

Pro seu povo hospitaleiro.

 

- Meu país é assim mesmo

Um pouco contraditório

O belo junta com o feio

Pra circo basta auditório

Parece conto de fadas

É um país ilusório.

 

Os dois saíram nadando

O peixinho muito contente

Agora aquela baleia

Viu um Brasil diferente

Todos precisam saber

O que acontece com a gente.

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